quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Artigo desabafo


Hoje o dia amanheceu e parecia sonho, os braços foram executando as tarefas matinais - sair das cama, ajeitar a coberta atrás do travesseiro, ficar nu para entrar no banho - sem que me desse conta. De tudo que já senti nesta pouca vida, o dia de hoje foi especial. Ainda com o cabelo molhado da água morna, desço pela minha comprida rua, entro na banca do jornal e me surpreendo.

A surpresa foi constatar que jornaleiros simpáticos estão em extinção. O homem com sua careca insossa não permitia que nenhum "bom dia" tentasse viver em sua expressão. Sorrisos nem pensar. Eu, tranquilo, pedi com toda educação minhas duas barras de cereal. Ao sair, disse-lhe: " Muito bom dia para você". E ele, nada; depois, peguei um táxi que me levou mais dois reais. Pediu gorjeta com o olhar, tive pena e dei.

Hoje, sobretudo, faz-se um dia especial e que nos exige respeito às aproximadamente 300 pessoas soterradas na Região Serrana Carioca. Sabemos de que modo (obscuro e perverso) àqueles lotes foram adquiridos. São vidas já marcadas para morrer, que se desperdiçavam enquanto teimavam em construir seus prejudicados abrigos de finas paredes, baixios tetos. Incrível assistir tamanha tragédia na região onde emerge o chamado e aclamado " Dedo de Deus ". Este fato (paradoxal) recorda-me a música de Cazuza " Um trem para as Estrelas ". Vale muito a pena voc~es escutarem lendo este "artigo", que, na verdade, é desabafo.

4 comentários:

Marco Marin disse...

Uma das características dos tempos de degenerescência (ô palavra horrível), é a falta de paciência e o descaso com relação a gerar uma boa vontade com relação ao próximo. É um desalento, uma apatia, onde parece que a generosidade não tem mais nenhum valor e sentido. Esta situação é interdependente de um sistema econômico, social, industrial que se retroalimenta de gerar buscas intermináveis de prazeres momentâneos. Choquei-me no passado quando abservei nas pizzarias a quantidade de pessoas que deixam todas as bordas da pizza e só comem a parte da massa com queijo e calabresa (ex.). Pode parecer pueril ou pouco, mas isto reflete a mente voraz do homem pós moderno, que nao pode esperar mais por nada. Não se medita mais nas bordas. Não se fazem mais pausas. Mas tudo tem seu preço, a longo prazo...

Pedro Paulo Rosa disse...

Concordo plenamente Marcos. Precisamos divagar pessoalmente! Abração...

Lucas Conrado disse...

Não são apenas os donos de banca educados que andam em falta. As pessoas em geral educadas estão.

Sabe qual é uma coisa que venho notando há algum tempo e até estou pra escrever sobre no meu blog? A forma como faxineiros são tratados num geral. Para muitas pessoas, é como se simplesmente eles não estivessem lá. Passam por eles sem enxergá-los, não dão um bom dia, um boa tarde, um boa noite. São meros servos...

Acho que todos devem ser tratados com o mesmo respeito. Do faxineiro ao diretor. Gentileza gera gentileza.

Pedro Paulo Rosa disse...

Caramba Lucas, você resumiu tudo!! É exatamente isso. Eu faço questão de falar e puxar papo com eles rssr Abração