quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Entre O Pôr - do - Sol e as Àguas...

Na verdade, a garota não sabe muito bem o que ela quer. Mesmo sob este sol escaldante de Domingo ainda não decidiu se prefere a praia ou ficar debaixo do lençol vendo desenho, apenas na companhia das pipocas e do ar-condicionado.
Ah! Tinha esquecido-me, ficaria à sós ela e sua saudade. Metade dela deixava-se dominar por esta marca doída da recordação, que persiste sempre em atacar-nos nos dias de sol ou de chuva.

Do nada, Mariana levanta-se da cama, procura um chá no armário debaixo da pia da cozinha, mas não o encontra. Olha pela janela, admirando o sol e decide-se: Vai à praia. Dessaruma gavetas à procura de seu recém comprado biquíni roxo e, nas mãos que saltam entre meias, blusas, sutiãs, Mariana reencontra suas velhas cartas. Cartas escritas por cinco anos ao seu primeiro namorado. Tocada, retira-as da pequena caixa de papelão e as acaricia numa mistura de saudade e remorso. Seu interior não admitia a vontade dela o ter perdoado a traição. Foi um impulso tão grande de orgulho (seria mesmo orgulho?) ter mandado ele partir. Afinal, era um homem tão raro...- pensava Mariana.

Qual a distância de um perdão e de um rancor?

Perguntou-se isso pelas três horas que aproveitou das águas geladas da praia. Boiou, boiou, logo depois estirava-se nas areias para contemplar gaivotas mescladas ao anil dominical. Em seu peito surgiu um frêmito, uma emoção diferente. Mariana suspirou entre asfixiada e sonolenta e, ali, entre o pôr - do - sol e as águas de Iemanjá, morreu.

Um comentário:

Guilherme N. M. Muzulon disse...

Ta escrevendo cada melhor... um dia eu alcanço essa riqueza compactadas nas linhas traçadas.