quarta-feira, 28 de outubro de 2009

HOJE, ONTEM E AMANHÃ

Eu ainda me acomodo na escuridão que se derrama da noite e da que escoa de mim. Repouso essas três folhas sobre a velha poltrona da sala da avó.
Logo abaixo, jaz o colchão. Desfiapento, suado de anos, submisso a tantos e tantos corpos, que, nem sempre nus, viveram o prazer. Seja por uma noite sem pesadelos ou em consequencia duma inesquecível cópula.
Quase não enxergo aquilo que escrevo, tal qual uma galinha quando corre entre os gravetos na fuga da navalha, mas não assimila bem o que está por trás dela. Assim estou, sem as certezas firmes que guiam os abismos, que guiam as certezas de um “homem de metas”.
Só que as metas sempre são atropeladas pelos tratores da minha avenida. Comigo, o Improvável está no leme, sendo o condutor das trilhas. Igualmente a agora, sob este quase sem-luz, quem salta acima de meus olhos são estas palavras.
Palavras grandes, sensuais, oferecidas. Estão loucas para agarrarem vocês, despirem seus botões para encontrar as curvas clandestinas. Não é de insônia de que sofro. São 23 h 45 min e sei que, caso deite-me, adormecerei. Entretanto, a chama a qual me alarma chama-se escrita. Fome de papéis e de canetas.
Por isso, a eles me rendo. São companheiros fiéis e sensíveis. Percebem o núcleo dos sorrisos e choros; efusões e mazelas. Nessa solidão mascarada em que me encontro guardo a impressão, assim como protejo a certeza desse suor literário o qual exala de meus poros, de que esse breu transformar-se-á em plena flor de luz. Porque eu não busco mangues. Ao contrário, embora seja (eu e todos nós) a junção de Deus e do Diabo, persisto em fincar meus pés e mergulhar minha alma nas favas tranquilizantes do sol.
Dito isso, poderei aquietar-me de verdade e resguardar estas folhas; dobrá-las em três, quatro pedaços, como se fosse um mapa.
Mapa da mina
Mapa do sonho, do ideal, do corte final com esse mundo. Ou, apenas uma lembrança digna de um diário que sobreviva gerações e gerações da família que pretendo parir.
O ser-humano é algo, realmente, estranho, paradoxal. Somos feitos de sonhos, tão imersos em expectativas e inseguranças, cujo fato suscita e fomenta a criação de ensaios de um Estado, de uma nação, uma moeda “nacional” etc. Criamos uma razão forçada, a qual é, de forma contumaz, reduzida a pó pelo fogo solar do coração.
Salve o Sol!
Salve o coração!
Salve a palavra! Sobretudo, salve os gestos que ressoem paz e mudança. Para hoje, ontem e amanhã;

Pedro Paulo Rosa.

Nenhum comentário: