sexta-feira, 30 de outubro de 2009

CALMAMENTE PALHAÇO




O palhaço arregassa toda a alegria
Deixa-se pronto para arrasar
Envolver com o seu brilho de pirata

A plateia que se honra em lhe aplaudir...

Brilho galante que ao mesmo tempo que fisga, assusta
Atemoriza à mulheres jovens,
À crianças frágeis
Que não entendem o movimento do palhaço

No meio fio da alegria e do desespero

Ele freme as mãos, suspira num sorriso e, pelos armários de si,
Salvaguarda um pesar de um Abril passado;
Quando chocolates não melaram a sua alma.
Vai deixando sua alegria se esvair, derramar pelas mãos


Essa recordação o paralisa; e agora ele jaz estático no camarim
O público o grita, mas não responde aos berros
Pois o amargor do doce não deliciado fincou ransos de melancolia no velho palhaço
O qual nem mais saía, nem mais subia os fios do circo,
as lonas centrais,
Nem mais tocava na rosa escarlate da bailarina
Rosa que ensaia ser o coração verdadeiro da moça

E o palhaço bem que merecia um novo coração, de preferência feito de pétalas
E ornado de trigos frescos

Mas o avivador de almas, o pregador de sorrisos derrama-se sobre o sofá
Tateia as cômodas do camarim à procura da garrafa de uísque
Entorna em si o líquido ainda quente enquanto dos olhos perfeitamente maquilados
Desce uma lágrima.

2 comentários:

Pedro disse...

Gostei da forma completa da poesia, de tratar a felicidade, ao mesmo tempo em que ela explode, e some dentro do ser.
Muito bom, abraços.

lua_rosa disse...

sempre relacionamos o palhaço à alegria;mas muitas vezes esquecemos que ele é uma pessoa como outra qualquer,com seus problemas e defeitos.
é realmente genial!